1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70) com data de 11 de Fevereiro de 2022 com mais um dos seus trabalhos verso, desta vez dedicados às Mulheres Grandes de Teixeira Pinto, afinal a todas as Mulheres Grandes da Guiné do nosso tempo:
Mais uma vez a enviar para a Tabanca mais esta coisinha e porque já há muito tempo que não o faço.
Porém, não me esqueço de visitar a Tabanca porque também é minha.
Um Grande Abraço para todos os Tertulianos em Especial Para seus Régulos e Chefes de Tabanca.
Albino Silva
PARA TI, Ó MULHER GRANDE
Para ti ó Mulher Grande
Tu que és Mulher e Mãe
És a mulher da Guiné
És igual à minha também.
Para ti ó Mulher Grande
Aquela que na Guiné vi
Em Bolanhas que trabalhavas
Em Tabancas que conheci.
Vi em ti ó Mulher Grande
Coisas que não tinha visto
E para nunca esquecer
Vim aqui escrever isto.
Eu te via pelas matas
Quando a lenha ias apanhar
Que a carregavas à cabeça
Para a Tabanca levar.
Tomavas conta dos filhos
Na Bolanha ias trabalhar
Ainda ias de redes à pesca
Para o teu peixe pescar.
Cultivavas a vianda
No sal ias trabalhar
Cuidavas tua Tabanca
Andavas sempre a lutar.
No solo de tua Tabanca
De vassoura improvisada
Lá ias varrendo tudo
Eras mulher asseada.
Sem luxos mal vestidas
Tudo era bem ao natural
E mesmo na alimentação
Te alimentavas muito mal.
Sei que a cultura africana
Que é diferente da minha
Assim via a Mulher Grande
Dar aquilo que não tinha.
O que mais me custava ver
Quando davas de mamar
Ao filhote agarrado a peles
Sem leite para se alimentar.
Quantas mulheres guineenses
Com seus filhos a chorar
Sem ter alimentos ou pão
Para sua fome matar.
Trabalho árduo na bolanha
Trabalhavas sem descansar
E quando chegava a colheita
O bandido te ia roubar.
Reconheço Mulher Grande
Com a vida difícil de levar
Quando na tabanca, doente
Sem mesinho para tomar.
Quantas vezes na tabanca
Aquelas que fui visitar
Socorrê-las, dar-lhe mesinho
Mulher Grande eu ia curar.
Sinceramente ficava triste
Quando as via tanto sofrer
Quando as queria ajudar
E nada podia fazer.
Ainda hoje vejo Mulheres
Na imensa África a sofrer
Na tabanca ou deslocadas,
aos poucos as vejo morrer.
Vão morrendo de doentes
Com fome sem ter que comer
Ao colo delas seus filhos
Com suas Mães a morrer.
Enquanto vão tendo forças
Com a fome vão chorando
E já sem forças e sem Pão
Mães e Filhos se vão calando.
Tanta coisa estragamos
Quando podíamos oferecer
Àquelas pessoas que sofrem
Sem ter nada para comer.
Para ti ó Mulher Grande
De quem eu me lembro bem
Eras uma Mãe da Guiné
Mas igual à minha Mãe.
Para ti ó Mulher Grande
Quantas vezes eu fazia
Da comida que era pra mim
E com vós eu repartia.
Para ti ó Mulher Grande
Eu sempre me hei-de lembrar
Daquilo que pouco tinhas
E ainda me querias dar.
Eras tu ó Mulher Grande
Descalça e a caminhar
Com os pés todos cortados
Quando tu ias pescar.
Para ti ó mulher Grande
Corajosa trabalhando
Também em noites de Ronco
Em tabancas te via dançando.
Hoje não estou na Guiné
Mas nunca eu me esqueci
Da Mulher Grande e Mãe
Muitas que na Guiné vi.
Mulher Grande da Guiné
Um dia ainda vais ver
Por nunca me esquecer de ti
Eu voltarei a escrever.
Por:
Albino Silva
Sol. Maq. 011004/67
CCS/BCaç 2845
Guiné - 1968/70
____________
Notas do editor
Poste anterior de Abino Silva de 14 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22719: Blogpoesia (760): Operações e Missões, e dos nomes que lhes davam (7) (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845)
Último poste da série de 13 DE FEVEREIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22996: Blogpoesia (764): "O perfume das cores"; "Remate" e "As flores do rio", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728